A delação premiada dos executivos da Andrade Gutierrez aponta pagamento de cerca de R$ 150 milhões em propina na obra da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
O valor é referente a um acerto de 1% sobre contratos e teria como destino o PT e o PMDB e agentes públicos ligados às legendas.
É a primeira vez que o esquema revelado pela Lava Jato, de financiamento de partidos por meio de contratos convertidos em doações legais, chega à campanha de 2014. Em 2014, a empreiteira registrou doações de R$ 20 milhões para a reeleição da petista. A propina estaria ligada a obras das usinas de Angra 3 e Belo Monte, além do Complexo Petroquímico do Rio, o Comperj.
Executivos da Andrade Gutierrez declararam, em delação premiada, que a segunda maior empreiteira do país pagou propina pra conseguir obras da Petrobras e do sistema elétrico. E que esse dinheiro chegou à campanha da presidente Dilma Rousseff, na forma de doações legais.
O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, já homologou as delações dos 11 executivos da construtora Andrade Gutierrez. Mas o ministro não divulgou os depoimentos. Em troca de redução de pena, dirigentes e ex-dirigentes da empreiteira revelaram um esquema de corrupção envolvendo contratos públicos, partidos, políticos e campanhas eleitorais. A informação está na delação do ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio de Azevedo, que apresentou os números em uma planilha à Procuradoria-Geral da República.
A Andrade Gutierrez teve papel central na formação dos consórcios que atuaram nas obras de Belo Monte. Além da empreiteira, a Camargo Corrêa, Odebrecht, OAS e Queiroz Galvão também participaram das obras. Ao todo, 10 empresas faziam parte dessa sociedade para execução dos serviços de construção da unidade. Cada empreiteira ficou responsável pelo pagamento de um porcentual relativo à fatia de obras controlada por ela.
O leilão para construção e operação de Belo Monte foi realizado em abril de 2010 e as obras, fechadas no ano seguinte. Dois consórcios disputaram o leilão da usina: o vencedor Norte Energia, formado por Chesf, Queiroz Galvão, OAS, Mendes Jr, entre outras; e o derrotado Belo Monte Energia, que tinha como sócias as estatais Furnas e Eletrosul e a empreiteira Andrade Gutierrez.
Os executivos disseram, também, que o governo atuou diretamente, por meio do então ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, do PMDB do Maranhão, no leilão de Belo Monte. Segundo a delação, o ministro se reuniu com as empresas para fazer um acerto sobre a concorrência, e deu orientações sobre a disputa para que fosse passada à opinião pública a ideia de que haveria uma concorrência de verdade na obra.
Segundo a delação, o ministro se reuniu com as empresas para fazer um acerto sobre a concorrência e deu orientações sobre a disputa para que fosse passada à opinião pública a ideia de que haveria uma concorrência de verdade na obra.
Otávio Marques de Azevedo disse ainda que foi orientado por Lobão a reunir outras empreiteiras, Odebrecht e Galvão Engenharia, que deveriam dar, juntas, 1% do valor total da obra para o PT e para o PMDB, cerca de R$ 150 milhões, ou seja, R$ 75 milhões para cada partido. Segundo a delação, o interlocutor para tratar desse assunto no PT era o ex-tesoureiro João Vaccari Neto, que está preso, e, no PMDB, o ex-ministro Lobão.
De acordo com a delação dos executivos, Lobão pediu e recebeu R$ 600 mil em dinheiro vivo em 2011. Os recursos teriam sido entregues para um de seus filhos e abatidos na parcela destinada ao PMDB.
A defesa do ex-ministro Edison Lobão disse que seu cliente e o filho dele negam o recebimento de qualquer quantia e que está ocorrendo uma tentativa de criminalizar a política.
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