Após 28 anos no Amapá, José Sarney está de volta à vida pública no Maranhão, terra onde construiu sua reputação como um dos coronéis mais longevos da política nativa.
Na coluna “Uma História bem contada”, publicada no sábado 24 no jornal O Estado do Maranhão, publicação pertencente à sua família, Sarney fala sobre os motivos de sua ida ao então recém criado estado do Amapá, em 1990, onde ocupou por três vezes o cargo de senador, e sobre a recente decisão, justificada pelo trecho: “Onde está meu umbigo deve estar meu corpo”.
Embora o ex-presidente não confirme, especula-se que seu retorno ao Maranhão, onde foi governador (1966-1971) e também senador (1971-1985), seja motivado por interesses eleitorais. Uma possível candidatura de Sarney para fazer frente à tentativa de reeleição do governador Flávio Dino (PcdoB) não está descartada, nem tampouco o apoio aos familiares que devem concorrer a cargos políticos este ano. A tentativa se daria mais de 50 anos depois da família perder a hegemonia, rompida com as eleições de 2014.
A filha de Sarney, Roseana Sarney (PMDB), que governou o Estado em quatro oportunidades e renunciou ao cargo em 2014, 21 dias antes do fim do mandato, anunciou sua pré-candidatura ao governo do Maranhão neste ano. Sarney Filho, atual Ministro de Estado do Meio Ambiente, deve concorrer ao Senado e o neto do oligarca, Adriano Sarney, deve disputar a Assembleia Legislativa.
A ida de Sarney ao Amapá, na década de 90, se deu, segundo o ex-presidente, pela negativa do diretório estadual do PMDB, na época comandado por Renato Archer e Cid Carvalho, para que ele concorresse ao cargo de senado. Em trecho da coluna publicada, Sarney afirma que, na época, recebia apelos não só do Maranhão, mas de todo o Brasil pela continuidade de sua presença política.
“Ainda mais com os problemas que estavam surgindo no governo Collor, que começara com confisco da poupança, no famoso plano Zélia (de Zélia Cardoso de Melo, ministra da Fazenda), que bloqueara todo o dinheiro do povo brasileiro que nos bancos ultrapassasse 50 mil cruzados novos (a moeda de então)”, afirma em trecho da publicação.
Segundo Sarney, o convite à vida política no Amapá foi feito pelo então governador Jorge Nova da Costa (PFL). Ele afirma ter “sucumbido” ao convite pelo “grande apelo intelectual”: além de ter pertencido ao estado do Maranhão e Grão-Pará, fato pelo qual Sarney se considerava um conhecedor da história comum, “fora sob minha presidência que o território do Amapá se transformara em Estado”.
Na coluna, ele descarta que o aceite na época tenha sido motivado por uma não eleição no estado do Maranhão. “As pesquisas e a maneira como o povo da minha terra me recebeu quando saí da Presidência mostravam seu grande apoio e uma eleição certa. Teria a grande vitória que tive no Amapá”, atesta em sua coluna. Sarney foi um dos presidentes com índice mais baixo de aprovação, 5% em 1989, em meio à crise da hiperinflação.
Sarney diz ter consciência de ter realizado um grande trabalho no Estado e afirma que a decisão de voltar ao Maranhão frustra a quase totalidade do povo amapaense, “que queria que eu fosse de novo senador pelo Estado”.
(Carta Capital)
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