São Paulo, Brasil
"Não vejo nenhum lateral que tenha a mesma qualidade, a mesma capacidade, a mesma inteligência que você, Daniel Alves."
A opinião é de Cafu. E mais abalizada não poderia ser. Ele foi o último lateral direito campeão do mundo, em 2002. Mas é na Copa da Alemanha, que sua situação se compara ao jogador do São Paulo. Foi titular absoluto, de novo capitão, aos 36 anos.
Em dezembro de 2022, quando será disputada o Mundial do Catar, Daniel terá 39 anos e sete meses. Como Cafu ele é obcecado por sua forma física. Terá condições orgânicas para jogar a Copa do Mundo com excelência.
Mas desde que jogue pela lateral e não segundo volante, como atuava nas mãos de Fernando Diniz.
E obrigando Tite a rever a sua maneira defensiva que considera ideal para a Seleção Brasileira. Com linha de quatro jogadores.
O caminho será imitar o argentino Hernán Crespo que, para liberar Alves sem medo, faz o São Paulo atuar com três zagueiros. O retorno tem sido excelente, com o time muito poderoso ofensivamente e sem ficar exposto a contragolpes simples, como nos tempos de Diniz.
Daniel Alves na lateral direita, jogando bem, era uma certeza desde que ele foi contratado a peso de ouro pelo São Paulo, em agosto de 2019. Só que o jogador foi sincero, direto com o ex-executivo Raí e o ex-presidente, o inseguro Leco. Atuaria no São Paulo no meio-campo.
Um dos melhores laterais direitos do mundo queria se poupar fisicamente. O Brasil não tinha o costume de atuar com três zagueiros, ele teria de correr muito do lado de campo. Não teria uma cobertura pronta, caso o São Paulo perdesse a bola na frente. Daí, seu desgaste seria enorme.
Isso porque não teve seu contrato renovado com o Barcelona, com o PSG e a Juventus não o quis de volta. Por conta da idade avançada para jogar como lateral nos gigantes europeus.
Foi acertado que Daniel seria meio-campo e o São Paulo contrataria o veterano espanhol Juanfran para ser lateral direito.
O resultado foi um ano e meio de frustração. Para o clube e para o próprio Daniel Alves. Ele se mostrou normal, comum como meio-campista. Tanto que foi abandonado por Tite nas convocações da Seleção Brasileira.
Daniel Alves prejudicou dois treinadores. Um dos motivos que Cuca perdeu seu emprego no Morumbi foi não aceitar colocar 'o melhor lateral do mundo', como o técnico dizia, no meio-campo. E o próprio Fernando Diniz, que cedeu ao desejo do jogador, e prejudicou o time, seu trabalho e acabou demitido.
"Infelizmente, eu vivo em um país no qual Joshua Kimmich (alemão que atua no Bayern como lateral e como meio-campo) jogando de meia é muito legal, mas eu jogando não é.
"Por quê? Eu posso jogar em qualquer posição. Eu atuei no Paris Saint-Germain como meia. Quando eu estava lá, (o técnico) Thomas Tuchel me falou que o lado direito do campo era muito pequeno para mim, porque todos os bons jogadores precisam ter a bola o tempo todo.
"Ele disse que era um desperdício me ter como lateral direito. É engraçado. No Brasil, eu tenho que ser lateral porque eu fui o melhor lateral-direito do mundo. Mas se eu voltar a ser lateral, eles vão dizer que estou velho. Olhe as estatísticas. Eu estou jogando bem. Qualquer um que trabalha comigo sabe o que eu posso fazer, não sou uma criança que está começando agora. Minha mente só diz uma coisa: performance. Eu preciso desempenhar. Essa é a minha obsessão", disse o jogador em entrevista para o site do jornal inglês The Guardian.
Na matéria fica muito claro que o único inimigo de Daniel Alves para disputar o Mundial de 2022 não é Tite. Mas seu ego. Ele prefere não enxergar o óbvio.
Kimmich é muito melhor no meio-campo do que o veterano jogador do São Paulo. Talvez ter nove anos a menos e ter atuado dessa maneira dupla desde o início da carreira, ao contrário de Daniel Alves.
Tite já deixou claro que aposta no seu sistema tático com quatro zagueiros, dois volantes com força física para defender e atacar, três meias com potencial para serem articular ou finalizar, e um homem mais à frente, como referência. Ou quatro zagueiros três meio-campistas e três atacantes.
Não faz parte dos seus planos três zagueiros.
Fernando Diniz pagou caro por sua devoção a Daniel Alves, que o indicou ao São Paulo. Sem títulos, perdeu o emprego.
"O Brasil é um cemitério de treinadores e jogadores. Nosso sistema se baseia nas coisas serem sempre as mesmas. Quando você tenta algo diferente, as pessoas ficam contra você, por que se funcionar isso vai mudar o sistema inteiro", desabafou Daniel, cometendo outra injustiça.
Porque as mudanças que dão certo são festejadas. Quando um dos melhores laterais do mundo impõe a um clube que vai jogar como meio-campista não tendo condições de ser um dos melhores meio-campistas do mundo, não tem lógica alguma. A não ser agradar seu ego.
Por que Daniel Alves não enfrenta Hernán Crespo que o faz atuar como lateral direito?
Porque sabe que irá criar um problema sem solução. O argentino não foi indicado por ele e não irá ceder.
Daniel Alves colocou Fernando Diniz como um dos três melhores treinadores com quem trabalhou. Junto com Guardiola e Tite.
Mas fez a ressalva óbvia.
"Você pode dizer: "Ele não ganhou o título". Mas eu não estou falando disso, eu estou falando sobre futebol. Eu admiro ele muito. Ele se importa com as pessoas, tem muitas ideias sobre futebol e ele sabe o que quer do futebol."
Justo Daniel Alves que valoriza demais ser o jogador que mais conquistou títulos no futebol. Foram 41. E faz questão de divulgar essa façanha.
Nenhum no São Paulo.
Um ano e nove meses de fracassos, por enquanto.
A chance é maior de conquista agora, com ele na lateral.
Com três zagueiros para que não se desgaste.
Como Tite não joga.
É um impasse que terá de ser resolvido até o Catar.
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