sábado, 2 de novembro de 2024

Crise diplomática - Venezuela diz que Brasil comete ‘agressão descarada e rude’ contra Maduro


O governo da Venezuela publicou, neste sábado (2), uma nota acusando o Brasil de cometer uma “agressão descarada e rude” contra o presidente venezuelano, Nicolás Maduro. No texto, eles ainda dizem que o Brasil “se faz de vítima” e que interfere nas eleições venezuelanas.

“A Venezuela demonstrou, por meio de denúncia pública, com dezenas de provas, como o Itamaraty empreendeu uma agressão descarada e rude contra o presidente constitucional, Nicolás Maduro Moros, contra instituições e poderes públicos, bem como contra a sociedade venezuelana, numa campanha sistemática que viola os princípios da Carta das Nações Unidas, como a soberania nacional e a autodeterminação dos povos, violando inclusive a própria Constituição brasileira em seu mandato de não interferência nos assuntos internos dos Estados”, comunicou o país, por meio de publicação no perfil oficial.

A publicação ocorre dias depois de a Polícia Nacional Bolivariana, comandada pelo regime venezuelano, publicar uma imagem com a silhueta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a bandeira do Brasil e a seguinte frase: “Quem mexe com a Venezuela, se dá mal”. Apesar de não mencionar Lula diretamente, a publicação foi apagada.

Em resposta, o Brasil classificou o tom da publicação como “ofensivo” e disse que não condiz com a “forma respeitosa com que o governo brasileiro trata a Venezuela e o seu povo”. O governo brasileiro disse ainda respeitar “plenamente a soberania de cada país”. Já a Venezuela discordou.

“O Governo Bolivariano insta, mais uma vez, a burocracia do Itamaraty a desistir de interferir em questões que dizem respeito apenas aos venezuelanos, evitando a deterioração das relações diplomáticas entre os dois países, para o que devem assumir uma conduta profissional e diplomática respeitosa, como a Venezuela tem demonstrado através de sua política externa”, continuou a nota.

A Venezuela alegou ainda ser “incompreensível” o comunicado brasileiro, dizendo que o país “tenta enganar a comunidade internacional, fazendo-se passar por vítimas numa situação em que claramente agiram como vitimizadores, o que tem surpreendeu a sociedade brasileira, venezuelana e latino-americana”.

“O argumento expresso pelo Itamaraty, de se intrometer nas questões eleitorais e políticas da Venezuela, intitulando-se testemunhas dos acordos de Barbados, carece de veracidade e é um ardil que deve parar imediatamente, uma vez que os referidos acordos foram desenvolvidos exclusivamente por venezuelanos”, concluiu a nota venezuelana.

Procurados pelo R7, o Itamaraty e a Secretaria de Comunicações Institucionais não retornaram até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto.
Entenda

Uma crise entre os dois países escalou nos últimos meses após o Brasil pedir a apresentação das atas eleitorais da eleição presidencial na Venezuela, que terminou com a reeleição de Maduro. A ação da diplomacia brasileira ocorreu porque a oposição venezuelana alegou que o chavista fraudou a eleição. A comunidade internacional rejeitou a reeleição de Maduro.

A tensão entre os dois países ganhou novos capítulos depois do veto do Brasil à Venezuela nos Brics. Historicamente, Lula e Maduro são aliados. O petista chegou a receber o venezuelano em algumas ocasiões, em Brasília, com honrarias.

Nesta semana, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela convocou o embaixador do país no Brasil para consultas em um sinal de insatisfação. Em comunicado, o regime de Maduro fez críticas a autoridades brasileiras, entre elas o assessor especial da Presidência da República Celso Amorim, chamado de “mensageiro do imperialismo norte-americano”.

Amorim ainda não respondeu às mensagens direcionadas a ele. Antes, o assessor da Presidência tinha dito que a reação do país contra o veto é “desproporcional, cheia de acusações ao Presidente Lula e à chancelaria”.



Em meio à crise entre os países, o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, disse que pediria ao Poder Legislativo que declarasse Amorim “persona non grata” pela posição “absolutamente prostrada aos desígnios do império agressor” contra o país.

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